As Tecnologias Sustentáveis se Sustentarão?

Sobreviver corporativamente hoje e no futuro passa por entender que qualquer organização empresarial faz parte de um todo, que deve ser sustentável per se para poder evoluir.

Portanto, para que as empresas consigam ter sucesso, seu ambiente, sua cadeia de valor, formada pelo conjunto de seus stakeholders diretos e indiretos, deve ter sucesso e deve prosperar, o que torna a empresa co-responsável por este processo, juntamente com governos, Academia, ONGs e os próprios cidadãos.

Ultimamente, Sustentabilidade Corporativa passou a ser mais que um conceito importante. De fato, passou a ser um vetor determinante no sucesso das empresas, seja por estimular sua capacidade de interagir com seus stakeholders gerando ganhos para ambas as partes, seja por sua preponderância de construção de reputação e credibilidade a partir de questões ligadas à governança corporativa, tais como transparência, ética, cidadania corporativa e responsabilidade social empresarial. Portanto, o conceito de Sustentabilidade Corporativa, embasado no chamado tripé resultado econômico-financeiro X resultado social X resultado ambiental é cada vez mais valorizado por acionistas, clientes e colaboradores, tornando-se um imperativo para o sucesso das corporações.

Mas, para ser traduzido em ativos de valor, o programa de Sustentabilidade Corporativa da empresa deve estar obrigatoriamente ligado ao core business do negócio e, portanto, à sua estratégia corporativa. E se isso vale para a estratégia geral da empresa, vale para toda e qualquer tecnologia habilitadora desta estratégia.

Por conta disso tudo, e por que as empresas são agentes altamente influentes nos ecossistemas em que estão inseridas, elas não podem mais abrir mão de se engajar no processo de transformação sócio-ambiental que nosso planeta, em instância maior, necessita. Não podem, portanto, ignorar a relação de causa-impacto específica da tecnologia com o meio ambiente, ou seja, o conceito de tecnologia verde.

Não há dúvidas que nosso planeta está ameaçado pelo aquecimento global. Nós já impomos tensões cada vez maiores ao finito e limitado meio ambiente, ultrapassando a sua capacidade de se sustentar. Nós já estamos consumindo 25% mais recursos naturais a cada ano do que o planeta é capaz de repor. E neste ritmo, em 2050 estaremos consumindo mais que o dobro da capacidade da Terra.

A procura por soluções mais amigáveis ao meio ambiente está pouco a pouco se disseminando por todos os setores econômicos. Podemos até dizer que em breve estaremos entrando em uma nova onda verde, onde as questões ambientais deixarão de ser apenas obrigação dos parâmetros legais, mas um dos fatores preponderantes para sustentabilidade do negócio. Os executivos começam a perceber que no futuro a questão ambiental poderá ser uma restrição ou uma ferramenta para alavancar negócios. As estratégias de negócio vão ter que alinhar competitividade com sustentabilidade. Provavelmente este movimento vai se acelerar após 2012, quando o Protocolo de Kyoto será revalidado e possivelmente deverá fixar normas mais rígidas para as empresas brasileiras.

Qualquer que seja o setor econômico a preocupação ambiental vai se tornar cada vez mais evidente, e envolverá desde a construção de novas plantas industriais e prédios até a concepção, desenvolvimento, fabricação, distribuição e descarte do produto final. A pressão por parte da sociedade e dos parceiros de negócios no exterior será cada vez maior para que as empresas tenham processos cada vez mais limpos e ecológicos.

Muito bem, e a área de TI? Como se encaixa neste contexto? Uma recente pesquisa efetuada nos EUA pela Info-Tech Research Group mostra que ainda existe uma distância muito grande entre o que as empresas americanas consideram uma área “IT green” e o que realmente estão fazendo. Mas, também acredita que o crescente interesse em adotar medidas de redução de energia e desperdício começará a gerar ações mais intensas.

E aqui no Brasil? Na avaliação de Cezar Taurion, estrategista de TI da IBM, pouca coisa tem sido debatida e mesmo estudada. Estamos começando agora a compreender o problema. Muitos executivos de empresas globais ainda estão mais preocupados com os seus acionistas que com as questões de sustentabilidade. Uma recente pesquisa feita pelo Insead, escola de negócios francesa, mostrou que apenas um em cada seis executivos de grandes corporações acha que suas companhias devam ajudar na resolução de problemas sociais e ambientais. É uma preocupação ainda débil no topo das organizações. Neste contexto, o que um CIO pode e deve fazer?

Já sabemos que o custo de energia sobe constantemente… Considerando apenas a tarifa média cobrada do consumidor industrial, houve um aumento de 200% entre 2001 e 2006, muito superior aos índices de inflação do período. E, segundo estimativas, o preço médio da energia no Brasil até 2015, poderá aumentar em até 20,4%. E para a indústria, a alta será mais pesada, chegando até 30%. Aliás, a tarifa da energia elétrica industrial brasileira é elevada, quando comparada a de outros países. Por exemplo, analisando os preços de 2006, em US$/MWh, vemos que o preço no Brasil é de 39 dólares, enquanto que outros países como França (35 dólares), Canadá (28 dólares) e EUA (25 dólares) tem preços bem menores.

Com certeza, à medida que mais e mais informações sobre consumo de energia comecem a se disseminar entre os executivos, os CIOs também deverão ficar mais preocupados. Algumas estimativas mostram que em muitos datacenters, o consumo de energia chega a 20% dos seus gastos totais. Portanto a primeira providência será inserir gastos ambientais e de energia nos seus estudos de custos de propriedade.

Da cosncientização devemos passar à ação, ou seja, uma vez mensurado os gastos (sugerimos fazer um assessment da situação atual), deve-se criar um “Action Plan”, que identifique e priorize os objetivos da sua iniciativa “verde” (cada empresa tem objetivos e prioridades diferentes), e insera energia como um dos critérios na seleção de tecnologias. Sugerimos adotar ações de resultados rápidos como virtualização e consolidação de servidores e storage (eliminando servidores antigos, que consumam muita energia), implementar medidas que reduzam desperdício (uso desnecessário de impressoras, desligar micros quando não em uso, adotar thin-client quando adequado…), redesenhar o data center, incentivando negociações que tenham como pano de fundo o vetor da reciclagem e da inclusão social, implementar o trabalho remoto, etc.

Pensar em lucro é premissa de existência de uma empresa; mas não sua finalidade absoluta. O lucro empresarial é imperativo e deve ser exigido das empresas (como forma de mensuração de seu direito de existir como agente econômico de transformação sócio-econômica); porém, deve ser entendido como meio, energia, combustível que permite à empresa atingir seus objetivos e sua missão.

Ao mesmo tempo, a sociedade, na figura de suas ONGs, dos órgãos governamentais, da imprensa e na própria figura do indivíduo-cidadão (como eleitor, consumidor e acionista/investidor) passa a exigir das empresas, principalmente as de capital aberto, que estas adotem a prática da transparência no seu processo de governança corporativa e distribuição de riqueza, obrigando-as a mostrar, a quem de direito, que estão devolvendo à sociedade (em diferentes formas) os recursos que utilizam para produzir suas riquezas.

Por sua monta, os consumidores estão cada vez mais cientes do seu poder de transformação social e começam a demandar mais responsabilidade das empresas no que se refere às questões sociais e ambientais. Para jogar o jogo de hoje, é preciso pensar além dos ganhos empresariais, é preciso avaliar o que a comunidade, a região, país e mesmo o mundo vão ganhar com o sucesso da empresa.

Em outras palavras, a capacidade de gerar riqueza de uma empresa, como agente econômico, passa a ser, cada vez mais, fundamentalmente dependente de sua aprovação social.

Sem esta aprovação social, a capacidade comercial (e, portanto, de sobrevivência da empresa no longo prazo) tende a ser comprometida. E isto afeta aos acionistas, executivos, funcionários e a toda cadeia de stakeholders envolvida direta e indiretamente em suas operações.

Não é de hoje que sabemos que a imagem da empresa é “quase” tudo o que ela tem no mercado. Reputação é nome do jogo no futuro. Uma marca, símbolo da organização, bem cuidada ao longo dos anos vale mais do que qualquer ganho de curto prazo. Portanto, reduzir desperdício, tornar sua empresa mais produtiva e ainda ajudar a salvar o planeta… Parece ser um bom negócio! E se é um bom negócio para TI e seus stakeholders, é um bom negócio para a empresa, para o mercado, para sociedade, para o planeta.

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