Empresas oferecerão cursos de Harvard e Stanford a distância

Época Negócios, Outubro, 2011

 

Reprodução Internet

Mickael Ohana, CEO da Crossknowledge (Foto: Divulgação)

Em um mundo onde as notícias correm rápido e as empresas precisam reagir com agilidade cada vez maior a eventos como a crise nos Estados Unidos e na Europa, como treinar 50 mil pessoas ao mesmo tempo?

Empresas como L’Oreal, Sodex, Fedex, Coca-Cola e Philips parecem ter encontrado uma solução: o treinamento online.

Funciona assim, elas contratam um fornecedor que constrói uma universidade online.
Quanto melhor o ambiente tecnológico e o cardápio de cursos, melhores os resultados.

Assim, elas preparam seus funcionários para atuarem em situações de mudanças culturais, adoção de novo modelo de negócios, competição no mercado internacional, fusões e aquisições ou cortes de custos.

De olho na falta de mão de obra qualificada que começa a incomodar setores econômicos no Brasil e na instalação no país de empresas de fora, a CrossKnowledge (CK), uma das maiores empresas de e-learning do mundo, e a franco-brasileira Digital SK acabaram de firmar uma parceria.

A parceria envolverá o catálogo de 10 mil cursos online da CK com escolas de negócios, como Harvard e Stanford. Juntas, a CK e a SK vão localizar o conteúdo dos cursos para português do Brasil. Professores de universidades brasileiras também serão contratados para desenvolverem cursos específicos às necessidades das empresas daqui. O investimento exato não é divulgado, mas está acima dos R$ 10 milhões.

“Nos próximos cinco anos, estimo que 20% do mercado e 80% das grandes companhias vão usar nossa solução online. Essa é a realidade na França e na Inglaterra, por exemplo”, afirma Michaël Ohana, CEO da CrossKnowledge.

Um estudo entre novembro de 2009 e fevereiro de 2010 pela consultoria E-Consulting Corp, o mercado brasileiro de e-learning cresceu 25,9% nos últimos quatro anos, fechando 2009 com o total de R$ 612 milhões.

Só a CK tem 2,5 milhões de usuários no mundo e está em 14 países, com 500 empresas como clientes. A Digital SK tem em seu portfólio de clientes 50 empresas multinacionais que utilizam os cursos no Brasil, são companhias da indústria farmacêutica, e de setores como Telecomunicações e Energia.

Segundo Ohana, a crise teve um impacto positivo para a CK e a SK. “As empresas conseguem fazer caixa treinando mais pessoas com menos dinheiro. Estamos crescendo”, afirmou. Outro fator, para o executivo é que, em tempos de crise, as pessoas ficam mais ansiosas para progredirem. “Quanto mais habilidades elas possuem, mais fácil de conseguirem emprego, porque se tornam mais valiosas.”

Confira entrevista com o presidente mundial da CrossKnowledge.

Você colocou o custo do treinamento online como uma das vantagens para as empresas. Qual a economia para as companhias?
Custa entre 10 e 30 vezes menos. Treinar um executivo top em Harvard, por exemplo, seria ao menos 15 vezes mais caro. E, para a empresa, o preço cai conforme o volume, já que os contratos variam conforme o número de usuários. Por R$ 1 mil, você pode treinar um executivo durante um ano em um curso da Harvard.

Por que o Brasil?
Agora a internet está forte no país. Você tem cada dia mais pessoas conectadas à internet aqui. E também porque as empresas brasileiras estão competindo com empresas de todo o mundo. As empresas daqui estão crescendo e estão motivadas a desenvolver suas habilidades. É diferente do mercado na Europa ou nos EUA, onde as pessoas têm uma ambição menor para elas mesmas. Aqui as pessoas têm ambição, querem progredir e atingir um nível maior de educação.

Quem é o novo executivo neste novo cenário mundial econômico?
Os executivos precisam estar prontos para explicar a visão da empresa. Por isso eles vão para os cursos de liderança, visão, criação de valores etc. Hoje vemos muitas pessoas fazendo cursos de finanças, elas querem saber mais sobre esse tema. É um assunto que eles temem. Ao mesmo tempo, eles precisam saber avaliar o impacto financeiro daquilo que estão fazendo, para contribuir mais. Eles são cobrados por sua contribuição.

Alguns setores econômicos no Brasil já sentem a falta de mão-de-obra qualificada. Antes o diploma era garantia de emprego. Hoje, não mais. Como vocês enxergam isso?
O que as pessoas precisam entender é que elas não terão mais um trabalho ao longo de toda sua vida. Em termos sociológicos, em média, eles terão três ou quatro empregos, com competências e formações diferentes. Eles irão se adaptar conforme as necessidades da indústria, dos serviços, da tecnologia etc. Um dia você atuará como engenheiro, mas talvez depois venha a atuar como banqueiro ou consultor. A educação precisa ser contínua.

Existe um abismo educacional muito grande no Brasil. Isso é uma oportunidade ou um desafio para o e-learning?
Há uma peculiaridade na educação aqui. Em nenhum outro país você vê as pessoas saindo dos seus empregos para cursar uma faculdade à noite. Não faz sentido em outros países. Na Europa, as pessoas param de trabalhar para estudar. Isso é impressionante. Os estudantes aqui são mais envolvidos. Essa é a característica de quem faz treinamentos online. Existem alguns estudos que mostram isso. Daí o potencial do treinamento à distância aqui ser tão grande.

Como foi a experiência da CK em outros mercados emergentes?
Um dos mercados onde tivemos um grande sucesso foi no Japão. Quando entramos lá, achamos que teríamos dificuldade por causa da cultura local e da maneira de gestão que eles possuem. Ficamos muito surpresos de observar que eles queriam ter práticas globais de gestão. E hoje temos centenas de milhares de estudantes no país, porque eles querem expandir.

Você citou a necessidade de internacionalização das empresas. O que é uma empresa global?
As pessoas sempre terão sua própria cultura, mas para competir internacionalmente, elas precisam entender a cultura global. Você tem muitas técnicas de administração. Para ser um bom gerente, por exemplo, você precisa ter a habilidade de ouvir, a competência da comunicação, precisa ter acesso, conseguir dar feedback, gerenciar conflitos etc. Essas competências são necessárias em qualquer parte do mundo, apesar da cultura local. Em outras palavras, é preciso identificar o que é básico e o que é comum, não importa a nacionalidade.

Fonte; Epóca Negócios

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