Ensino à Distância: Tendência ou Modismo?

Mesmo depois de quase 10 anos, ainda há muita dúvida sobre a viabilidade e eficácia de projetos de Ensino à Distância, mormente de E-Learning, modalidade de ensino e treinamento que deve ganhar muita força com a convergência e a TV Digital.Então, a fim de analisarmos a questão a fundo, propomos assumir neste artigo ambos os chapéus: de defensores do EAD e de críticos do EAD.

Como defensores, podemos atestar que este modelo pode ser, de fato, o catalisador do processo de educação e formação profissional dos indivíduos, uma vez que possibilita a conciliação de 2 grandes variáveis críticas no processo educacional: (a) desprendimento de tempo e lugar e (b) riqueza de informações, conteúdo e experiências.

Em outras palavras, o EAD é um modelo educacional capaz de tornar a educação um processo sistemático e contínuo na vida agitada dos profissionais (e empresas) de hoje. E isso é ótimo, pois reduz tempo e custos, complementa e suporta aprendizados em campo, reforça estudos “perdidos” em aulas presenciais e seminários, etc, etc.

Além desses benefícios mais óbvios, o EAD pode trazer consigo algumas características importantíssimas para a efetividade do processo de aprendizado das pessoas. Dentre elas, poderíamos destacar: (i) a possibilidade de se estudar de maneira auto-gerenciável, (ii) a possibilidade de se estudar de maneira recorrente, sem perda de informações e conhecimento (que ficam armazenadas e podem ser repetidas à exaustão), (iii) a possibilidade de tornar o processo rico em troca de experiências e colaboração (ou seja, trazer para o ambiente virtual o processo presencial de trocas, principalmente com os features 2.0), (iv) a possibilidade de se aprofundar em conhecimentos específicos via navegação na Web (para E-Learning, por exemplo) e (v) a possibilidade de tornar o processo de estudo multimídia e interativo, agregando áudio, som, imagens, texto, etc.

Portanto, se fôssemos defensores do EAD reconheceríamos todos esses benefícios proporcionados pelo modelo educacional que oferece e ainda sim complementaríamos dizendo que: (i) o EAD é um excelente complemento ao processo tradicional de estudos e formação (ii) o EAD, como tecnologia social, pode ser uma arma fundamental nos modelos sócio-educacionais de formação e, principalmente, de requalificação profissional da classe de trabalhadores excluídos pela tecnologia dos processos produtivos tradicionais, (iii) o modelo à distância permite a formação de comunidades por interesse, intensificando trocas e trabalho em equipe, (iv) corporativamente, o EAD pode ser excelente instrumento de educação, formação, comunicação interna e até gestão de projetos, (v) como ferramenta, pode ser integrada a processos de educação e treinamento dos mais variados formatos, além de compor os menus de programas como Universidade Corporativa, Círculos de Controle de Qualidade, Times de Projeto, Gestão do Conhecimento e Change Management, dentre outras.

Assim, olhando por essa ótica, o EAD é mais que tendência. É realidade inexorável.

Mas nem tudo são flores, nos lembra nosso outro chapéu neste artigo.

Fôssemos críticos vorazes, céticos e pessimistas de plantão, começaríamos alertando para o fato de que o EAD é um sistema que precisa de alguém já “educado” para surtir o efeito desejado. Isso porque o processo de aprendizado inicial é, comprovadamente, muito mais eficaz quando presencial, com trocas reais e vivenciais entre pessoas “reais”.

Diríamos também que o EAD, por essa razão, acaba sendo elitista, nada social, uma vez que só complementaria os estudos daqueles, digamos assim, já estudados em algum nível. Diríamos que como suporte ao processo educacional presencial pode até ser que cumprisse um bom papel, mas mesmo assim dependeria imensamente da capacidade de concentração, foco e disciplina de cada usuário-aluno.

Outro ponto que poderíamos realçar é a dificuldade que temos, humanos – “bicho social”, de aprender sozinhos, utilizando formatos não seqüencialmente rotineiros e também que nossa dificuldade em absorver conhecimento, quando não centrados exclusivamente na atividade (ex: salas de aulas, grupos de estudo, etc), reduz-se substancialmente (ex. estudar à noite, estudar durante o período de trabalho, etc).

Ainda, como algozes do modelo, poderíamos dizer que é conceitualmente errado focar processos de educação em modelos remotos pura e simplesmente.

E que precisamos acabar com o modismo gerado em torno do assunto, principalmente incentivado pelos vendors de tecnologia (mormente de sistemas de E-Learning e Vídeo-Conferência), que, além de pouco ajudarem no processo de qualificação do que é EAD – e de quando deve ser aplicada -, transformam irresponsavelmente um modelo que tem aplicações claras e benefícios tangíveis em uma promessa inatingível e, portanto, pouco crível ou não prioritária nas decisões de curto prazo.

Pois bem… como não somos representantes de nenhum dos chapéus que vestimos hipoteticamente neste artigo, podemos dizer o seguinte:

EAD é bom. EAD é importante. EAD faz sentido, porque reduz custos, enriquece o processo de aprendizado, acelera processos… Mas EAD também pode ser ruim, se for vendido como “a solução educacional” ou “a solução de formação profissional”, principalmente nos níveis corporativos.

Portanto, terminamos esse artigo dizendo que a tendência do EAD se verificar como prática comprovadamente eficaz no processo de gestão educacional de pessoas, empresas e até países será tão mais real quanto mais rapidamente conseguirmos conter os movimentos de transformação deste modelo em modismo ou evitar que as falhas e ineficácias ao longo do caminho se pintem com cores demasiadamente fortes de ceticismo.

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