Sites de produtos chineses fazem sucesso, mas trazem risco para consumidor

O Globo, Julho, 2012

Ofertas irresistíveis, produtos importados e entrega sem pagamento de frete. Tudo sem sair de casa, ao alcance de seu computador. É com essas facilidades que os sites que vendem quinquilharias da China estão tentando fisgar clientes no Brasil. No começo do ano, havia meia dúzia desses ‘saldões’ digitais. Hoje, há uma infinidade deles, entre chineses e americanos, divulgados à exaustão nas redes sociais entre os aficionados nesse tipo de produtos. Analistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que, assim como qualquer compra feita pela internet, nesse tipo de operação todo cuidado é pouco. Fornecer número e código de segurança de cartão de crédito internacional a sites desconhecidos sempre implica riscos.

O cardápio de ofertas é muito vasto e é um dos maiores atrativos desses sites. Há itens como acessórios para carros, para telefones celulares, computadores, artigos de foto e vídeo, para casa e jardim. Dá para encontrar pechinchas como cabos de USB por US$ 1,40; mini MP3 por US$ 28; pincéis de maquiagem por US$ 18; carteira de silicone feminina por US$ 5, capa para i-Phone por US$ 1,71, chaveiros em forma de porco com luz de led por US$ 0,78. Há também relógios de mesa digitais por US$ 2 e luvas de boxe por US$ 19. Isso sem falar nos eletrônicos.

– O preço e a gama de produtos são os grandes atrativos desses sites que vendem produtos da China. O preço é tão barato comparado com produtos similares no Brasil que o consumidor se arrisca – avaliaDaniel Domeneghetti, diretor da E-Consulting, uma consutoria que estuda o comércio eletrônico.

Domeneghetti lembra que houve uma adaptação do modelo de venda on-line, com foco específico: as quinquilharias a preços muito baixos.

Numa rede social, os participantes de uma comunidade criada por pessoas que compram nesses sites listaram pelo menos vinte já utilizados por eles. Além do mais popular, o www.dealextreme.com, há outros como www.focalprice.comwww.seven7box.comwww.sw-box.comwww.tinydeal.com;www.suntekstore.comwww.chinabuye.com entre outros. Os produtos são enviados de centros de distribuição da China ou dos Estados Unidos. Muitos relatam ter feito três ou quatro compras, e alguns não receberam pelo menos um dos produtos.

Pedro Guasti, presidente do Conselho de Interação e Comércio Eletrônico da Federação do Comércio de São Paulo e fundador da empresa e-Bit, especializada em comércio eletrônico, afirma que esses sites não são ilegais. Quem compra neles faz uma operação de importação. Como atrativo, eles não cobram frete para a entrega, diferente de outros sites no exterior, como a Amazon.com, onde há cobrança de frete.

Guasti adverte que os sites de produtos chineses não dão garantia dos itens vendidos e não emitem nota fiscal.

— A e-Bit tem um programa de avaliação de lojas virtuais brasileiras no qual os compradores avaliam a qualidade dos serviços prestados pela loja. E as lojas são certificadas. Esses sites que vendem produtos da China não participam do programa e não recebem certificação por serem empresas de fora do Brasil — diz Pedro Guasti.

Exatamente por isso é difícil saber quanto movimentam no Brasil, já que a contabilidade é feita lá fora. Mas o movimento começa a saltar aos olhos das autoridades brasileiras. Guasti lembra que a Polícia Federal já fez diversas operações, este ano, cujo alvo eram exatamente essas compras. O objetivo foi identificar produtos piratas, compras com valor subfaturado, entre outras irregularidades. Muitos produtos foram apreendidos e o consumidor ficou na mão.

— Como são empresas de fora do país, não estão sujeitas às leis do consumidor. Portanto, não adianta ir denunciar ao Procon. O risco é todo do cliente. Os sites também não se responsabilizam por qualquer tipo de problema e, por isso, não há como reclamar — diz Guasti.

Outro problema já relatado por quem fez uma compra desse tipo é o tempo de entrega. Há gente que já esperou até 4 meses para receber o produto.

— Nós testamos alguns desses sites e um dos problemas é o tempo de entrega. Compramos artigos de decoração e um chuveiro. Eles demoraram mais de 30 dias para chegar. O chuveiro original custa R$ 5 mil em casas de material de construção. Num dos sites achamos por US$ 740. Mas é preciso lembrar que trata-se de um similar — diz Daniel Domeneghetti, da E-Consulting.

Em alguns casos o valor é tão irrisório, abaixo de US$ 1, diz o diretor da E-Consulting, que o cliente pensa”: se eu tomar o calote e o produto não for entregue, não faz mal. Pelo menos tentei comprar”.

Ele diz que boa parte dos sites utilizam o pay-pal para que o cliente faça o pagamento. Trata-se de um sistema que permite o envio de dinheiro utilizando um conta do próprio pay-pal, evitando uso de cartões de crédito.

— Com isso, o risco do uso do cartão indevidamente é reduzido — afirma Domeneghetti.

Outra polêmica sobre estes produtos é se eles são ou não tributados pela Receita Federal. Nas redes sociais, os compradores afirmam que, por serem de valor muito baixo, os produtos não são tributados pela Receita Federal. Eles dizem não ter pago o imposto.

Já a Receita Federal informa que compras no valor abaixo de US$ 50 não são tributadas quando enviadas de pessoa física para pessoa física. No caso dos sites, como trata-se de pessoa jurídica, mesmo a compra com valor baixo deve ser tributada. O imposto é de 60% do valor do bem. Receita faz fiscalização desse tipo de importação por amostragem.

— A não ser que os sites estejam enviando os produtos para os clientes como se fossem pessoas físicas para não pagar imposto — diz Luiz Monteiro, assessor da Receita Federal em São Paulo.

Para Ricardo Bachert, diretor da Panda Security, a quarta maior fabricante de anti-vírus do mundo, muitos golpistas utilizam exatamente o chamariz dos preços baixos para atrair vítimas a sites piratas. O cliente nunca recebe o produto, mas contabiliza vários débitos indevidos em sua fatura de cartão de crédito.

— Seja chinês ou brasileiro, o consumidor nunca deve fornecer códigos de segurança, números de cartões de crédito, senhas a sites desconhecidos — iz Bachert.

O diretor da Panda Security afirma que os pagamentos feitos pelo sistema pay-pal são garantidos, já que a empresa é seria e tem nome a zelar.

— Mas é preciso ficar atento se trata-se do site do verdadeiro pay-pal. Já surgiram até sites falsos do próprio pay-pal — diz ele.

Fonte: O Globo Economia

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