Conhecimento e Conteúdo Memético

Na Era do Conhecimento Digital as idéias podem propagar-se praticamente sem limites e sem custos. Em outras palavras, as idéias são a commodity definitiva da abundância, que se propagam a custo marginal zero, enriquecendo tudo o que tocam. Nesta nova dinâmica do que representa riqueza e valor, a capacidade de disseminação do conhecimento é a principal alavanca de seu valor.

O termo utilizado para denominar as estruturas de informação com alta capacidade de auto-propagação é “Meme” e Memética, a ciência que os estuda. Os Memes podem ser idéias ou partes de idéias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autônoma. Exemplos de Memes vão desde refrões e slogans publicitários até poemas épicos.

Porém, os Memes, em sua grande maioria, são formados por fragmentos de informação, com relativamente pouca profundidade ou detalhamento. Memes precisam de estruturas simples, flexibilidade e fluidez para serem compreendidos instantaneamente, ganharem credibilidade e reputação irrestrita e se disseminarem exponencialmente. Qualquer semelhança com o comportamento de corpos viróticos unicelulares não é mera coincidência. Memes são os vírus informacionais, cuja única intenção é se propagar rápida e indefinidamente.

O conceito de Meme não é novo (seu surgimento data de 1976 ao ser cunhado por Richard Dawkins, autor do best-seller O Gene Egoísta), mas sua aplicação ganha cada vez mais atenção a partir da evolução das TICs e dos ambientes informacionais colaborativos. Na Web, o conceito de Meme (e da disseminação otimizada de informação e conhecimento) deixa o campo conceitual e é colocado em prática. A essência do Twitter é “memica”: usuários ganham relevância e exposição conforme seus twitts (Memes!) são replicados (retwitts) pelos demais usuários para suas próprias redes. Dessa forma, não seria absurdo assumir que uma única mensagem de até 140 caracteres possa atingir instantaneamente todos os usuários do Twitter (e da Web): basta que ela seja disponibilizada nos hubs sociais centrais para ser cascateada e capilarizada até a última milha.

Apesar de estar “no hype” o meme aponta um paradoxo importante para a Era do Conhecimento. Privilegia-se o formato e a simplicidade da informação em detrimento de sua explicação, detalhamento, aprofundamento, apresentação dos processos de construção, premissas, etc.

O meme é síntese, raciocínio fechado, perfeito, redondo. É consequência sem causa. Conclusão sem argumentação. Pouco colaborativo, com baixa capacitação e instrumentalização do receptor. Potencialmente alienante e comodista. Ainda mais em uma época onde credibilidade e reputação se constroem sobre credibilidade e reputação, sem necessariamente contar com pilares sólidos na base (a recente crise financeira global – global! – está aí para atestar). No mundo informacional-digital, o Meme reina absoluto, mas traz consigo o risco (sistêmico!) da banalização do conhecimento, pois trata das partes, ao invés de tratar do todo, do contexto amplo, do arcabouço de conhecimento completo.

A solução desta ambigüidade passa necessariamente pela ampliação e potencialização do conceito de Meme, ao tratar os formatos de super-estruturas e arquiteturas de conhecimento e conteúdo, ao invés de apenas fragmentos de conhecimentos ou informações. Assim, o desafio passa por estruturar grandes quantidades de informação e conteúdo em uma arquitetura de elementos que sejam, ao mesmo tempo, tecnicamente condizentes com os parâmetros de construção de conhecimento – seja ele científico, acadêmico, mercadológico, ou de qualquer outra natureza – e alinhados aos processos de disseminação de conhecimento, experiência, interatividade e aprendizado, que permitem dar sustentação ao processo contínuo e de alta escala de transferência de conhecimento.

Trazendo uma das características centrais dos Ativos Intangíveis – a de que o AI só possui valor se for percebido como tal pelo observador externo – o Conhecimento, por maior que seja o valor intrínseco que possua, só terá tal valor reconhecido, quanto mais memeticamente ampla (e voltada à disseminação) for sua formatação: o sucesso, credibilidade e reputação de determinado conhecimento depende disso.

Em termos práticos, estruturar conhecimento, informação, conteúdo, etc passa por adotar ambientes, funcionalidades, abordagens, canais, dinâmicas e toda e qualquer sorte de formatos para criar uma experiência de transferência de conhecimento que seja única e essencial para a formação do repertório e know-how do receptor. E tais formatos e elementos hão de ser digitais, multicanais, multiambientes, co-construtivos e colaborativos.

Agregar e integrar formatos de texto, imagem, áudio e vídeo são essenciais para uma arquitetura de conhecimento otimizada, mas não suficientes. Acionar a alavanca de valor do conhecimento exige a adoção de dispositivos de seqüenciamento, encadeamento, correlação, contextualização, cognição e endosso que permitam ao usuário (de forma ativa ou passiva) vivenciar plenamente a amplitude de determinado conhecimento. Como um filme, os novos formatos devem, ao mesmo tempo, abordar toda a complexidade relacionada e propor um desfecho facilmente assimilável.

Na perpetuidade deste cenário, para a tristeza de nossos antepassados e descendentes, os livros e aulas magnas, como os conhecemos, estarão fadados a deixar de serem os veículos-símbolos do conhecimento. Nas próximas décadas, a transferência estará mais para a instantaneidade do modelo Matrix, do que para as didáticas tradicionais.

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